Pular para o conteúdo principal

Pequena reflexão sobre o Maranhão: parte 2


Foto do Palácio dos Leões, por Silveria
Caros leitores
Dessa vez vou falar sobre as particularidades da nossa terra, pois cada vez que estudo mais sobre ela, mais a amo.
Os processos que precederam a ocupação portuguesa nas terras da América, após a descoberta por Cabral, tiveram como elemento definidor motivos de ordem política e econômica. Tais aspectos irão permear a constituição do estrato sócio-econômico e das classes fundamentais, como diria Gramsci (1968), no processo organizativo do Estado colonial brasileiro.
O rei de Portugal, Dom João III, sob inspiração de um regime de divisão territorial baseado em pressupostos feudais europeus, doa a fidalgos de sua corte de grande poder econômico capitanias hereditárias para que pudessem colonizá-las e defendê-las a suas próprias custas (GODÓIS, 2008).
Distribuídas as terras do Brasil aos capitães mores em 1532, os primeiros movimentos para essa empresa são desencadeados. Consistem na divisão das 12 capitanias aos donatários e posteriormente mantidas por seus sucessores, daí advindo o nome “Capitanias hereditárias”, como é descrito na historiografia brasileira.
João de Barros, feitor das casas Índia e Mina, Fernão D’Alvares de Andrade, conselheiro e tesoureiro mor e o fidalgo da casa d’El Rei Aires da Cunha (Ayres del Acuña) são contemplados com a donataria do Rio Grande e mais a do Maranhão, que seria o segundo lote de uma mesma associação (MEIRELES, 1996).
No ano de 1535 sai de Portugal, em particular de Lisboa, a primeira expedição para ocupação da donataria do Maranhão. Os sócios desse empreendimento colonial organizam embarcações para tomar posse. Esta armada contava com 10 navios, 900 homens de armas, 113 cavalos e farta munição, essa comitiva era composta por representantes de Fernão d’Alvares, os dois filhos de João de Barros (Jerônimo e João) e Ayres del Acuña (ou Aires da Cunha), experimentado capitão tanto de mar quanto de terra. Suas habilidades já tinham sido posta a prova em Malaca e Açores (Op. Cit.).
A estrutura montada para ocupação dessas terras só perdera em dimensão para a capitaneada por Cabral em 1500, cuja composição era de treze naus e 1.200 homens. Quatro meses durava o percurso da viagem de Portugal ao Maranhão para que se efetivasse a chegada nas terras do norte.

Vale ressaltar, que a primeira tentativa de ocupação da donataria do Maranhão nasce já eivada de cultura que se confunde com a história da língua portuguesa. João de Barros, um dos donatários do Maranhão era gramático, ele elaborou a “Gramática da língua portuguesa com os mandamentos da santa madre igreja”, publicada em 1539, o mesmo tinha uma predileção pelo campo da etimologia e envia seus filhos para a empreitada colonial, como nos informa Meireles (1996).

A segunda e terceira tentativa de tomada de posse da donataria do Maranhão ocorreu 1550 e 1555, respectivamente. As três tentativas tiveram fracasso em seus intentos e frustrações que obteve João de Barros na primeira.
Por outro lado, pode ser observam-se os primeiros registros de franceses entre a população indígena. Tal fato indicava, na verdade, uma estratégica de inserção entre os nativos visando uma aproximação que pudesse sustentar, por método diferente dos Portugueses, uma relação mais sedimentada na disputa territorial e colonial do Brasil.

Em 1610 os franceses chegam à costa maranhense no sentido de estudar e contactar o nativos e começam a sua aventura colonial no Brasil setentrional. Os  mesmos já haviam tentado o estabelecimento da França Antártica (1555-1560), conseguem estabelecer experiência colonial no Canadá (1535-1543) e na Flórida (1562-1565).

A experiência brasileira é a mais importante para nos determos. O Forte Coligny, fundado pelo Cavaleiro de Malta, Nicolas Durand de Villegagnon numa ilhota na baía da Guanabara constitui a primeira experiência, distingue-se pelo seu caráter inaudito; contudo, os conflitos religiosos entre protestantes e católicos destruiria a estabilização dessa colônia e facilitaria a sua remoção pelos portugueses. Como pontua Daher (2007, p.36), em 1556, Villagagnon escreve a Calvino que lhe enviasse mais discípulos da fé renovada, o que não foi suficiente para a guerra teológica naquele pequeno reduto enquanto existiu.

Alguém pergunta - o que isto tem haver com São Luís? Tudo. Pois, o Fort Saint Louis, fundado em 1611, embora eivado de novas expectativas de um eventual reduto hugenote e livre da repressão católica, propiciava a implementação de um projeto que falhou no Rio de Janeiro.
La Touche, senhor de La Ravadière, hugenote e Rassily, católico eram os lideres do processo de ocupação da nova colônia sob o auspício do Rei Henrique IV da França. Esta nova invertida representou forma francesa de aproximação com os tupinambás na “Terre sans mal” ao aceitar, sobre os ludibrios do catolicismo que relatam  os padres capuchinhos D’ Evreux e D'Abbeville  e outorga de sua soberania ao fincar a cruz e o estandarte da França em solo Maranhense, passando os nativos a viverem sob a égide das leis francesas decretada por Ravadière e Rassily, representantes do Rei Francês na nova colônia.

O forte São Luís, que posteriormente também será o nome da cidade, foi conquistado pelos portugueses em 1614. Sangue e diplomacia foram as duas táticas utilizadas pelos contendores na disputa. Entretanto, após a morte de Pezeur, o representante de Rassiliy, fez mudar a disposição de Ravardière para resistir a guerra  contra os portugueses. Jerônimo Albuquerque, ao entrar nos aposentos do comande do Fort Saint Louis, observa que ali existia muitos aparelhos para navegação e de astronomia, além de diversos livros, o que denotava uma disposição para a ciência.

Os quatro séculos que agora completa pode ser o sinal do tempo da herança de poder oligárquico que historicamente a nossa terra foi vítima, pois construiu a riqueza e opulência, o que pavimentou, também, a sua decadência econômica e fundou as bases que  mantém estado preso as amarras do atraso.

A reflexão que deixo, é de que é possível reverter tal lógica. O aniversário de São Luís pode ser o marco de uma nova saga. O povo acreditou em 1965 na saga de sua liberdade e foi traído.  Não se pode esquecer  que o processo político que leva Sarney ao poder, foi de uma movimentação que também levou o povo as  ruas e celebrar a derrota do vitorinismo, agora é chamado a ir as ruas  para retirar o engodo do poder e estabelecer um movimento de luta contra contra a oligarquia e seu sócio menor, João Castelo encastelado na prefeitura de São Luis. 
Precisamos fazer a nossa revolta árabe no Maranhão e entra no novo século da nossa história com a altivez que o Maranhão merece, pois foi o estado que foi o fiel da balança na integração do território quando se uniu ao Brasil no século XIX, o que permitiu a integração de todo o norte ao território nacional e ajudou a construir esse grande país.
Veja também a "Pequena reflexão sobre o Maranhão: parte 1"

Referências bibliográfica:

CORREIA, Rosini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís: SECMA, 1993.
DAHER, Andrea. O Brasil Frances: singularidades da França equinocial, 1612-1615. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007
D’ABBEVILLE, Claude. Historia das missões dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1945.
D’ EVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. São Pulo: Siciliano, 2002.
GODÓIS, Barbosa de. História do Maranhão para uso das escolas normais. São Luís: AML/EDUEMA, 2008.
GRAMISCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: civilização Brasileira,1968.
MEIRELES, Mário M. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão. São Luís: Alumar, 1996.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Começo do fim ou leve presságio: a renúncia do Sarney

Pipocam escandalos , um atrás do outro. Sarney de lá, Sarney de cá e nada. A mídia, na figura do PIG (Partido da Impressa Golpista), fustiga Sarney de todas as maneiras. Eu poderia estar satisfeito com tudo isso, pois é o começo do fim de um superpoder que ele acumulou ao ser alçado novamente a presidência do senado pela terceira vez. Muita coisa aconteceu: Roseana foi conduzida ao governo do Maranhão de maneira condenável, por um decisão jurídica através de uma corte política. Uma reflexão veio à tona - é necessário mudar a forma de indicação dessas cortes superiores e intermediárias da justiça brasileira. Retornando ao assunto. Os escândalos do senado que estão na pauta do dia e caem no colo do Sarney , pior é que não fico nem um pouco triste com isso. Então vamos a lista de questionamentos e amplo direito de defesa se o senador quiser publicar nesse modesto blog: a indicação do neto para o gabinete do Senador Epitácio Cafeteira é um caso que poderia se configurar de nepotism

Pretérito imperfeito

“O que é então o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicar a quem pergunta, não sei.” Santo Agostinho, Confissões Cristiano Capovilla* e Fábio Palácio**             O raciocínio em epígrafe expõe a dificuldade da razão ao tratar de um tema caro a todos nós. Vivemos no tempo, mas como conceituá-lo? Para os teólogos, nosso tempo na terra é o fundamento da condenação ou da salvação, quando do julgamento final. Para os filósofos modernos, o tempo virou história, medida das transformações sociais e políticas. Em que pesem as diferenças, ambos concordam em um ponto: o tempo é o critério de avaliação de nossas práticas.              Surge aqui uma vez mais, e sempre, o padre Antônio Vieira. Subvertendo compreensões comuns, maceradas por sua retórica dialética, o Imperador do idioma afirma ser o tempo fugaz e irreversível, algo que “não tem restituição alguma”. O uso diligente do tempo, com a prática das boas obras, é o critério de salvação da alma. Por isso, “o

Os desafios políticos e econômicos do segundo mandato de Dilma Rousseff

Os recentes movimentos da oposição e, juntado a isso o ajuste do capitalismo internacional decorrente da crise cíclica do capital, remete a necessidade de compreender as nuances concretas dos fatos, sob pena de ser atropelado pelo turbilhão de uma direita ainda mais conservadora e inflada como representação parlamentar no congresso nacional, tendo o consórcio midiático oposicionista a seu favor. Este é o nível da batalha ora em curso . Limites e possibilidades Um cenário adverso à continuação do ciclo de desenvolvimento saiu das urnas. O governo Dilma, nesse início de mandato, se depara com os primeiros reflexos da eleição de uma composição congressual de caráter mais conservador e de visão atrasada de país. O conservador Eduardo Cunha foi alçado à presidência da câmara federal. Trata-se da materialização da ameaça sem escaramuças as pautas sociais, bem como o trampolim de ataque a posições do governo ou, ainda, à produção de crises institucionais visando paralisar o Brasil.