Reflexão sobre atual situação social, política e econômica maranhense: do caos a esperança de dias melhores
A
eleição em 1965 de José Sarney contou com o apoio do governo central. Foi a
retribuição pelo seu voto no colégio eleitoral em favor de Castelo Branco e sua
contribuição no desfecho do golpe de 64. Estes casos são exemplos de como a
política estadual não pode ser vista isoladamente do cenário nacional, uma vez
que o mentor do clã que mantém o controle político e econômico do estado e é,
até o momento, um homem importante no tabuleiro da política nacional.
Os governos
que se sucederam sempre tiveram a marca da influência política de Sarney. Já no
aspecto social e econômico os avanços foram imensamente modestos, o que muito contribuiu
na constituição de bolsões de pobreza, grande movimento migratório a centros
urbanos mais desenvolvidos.
Os
custos desta situação têm sido altíssimo para a população. Tudo leva a crer que
se aproxima a fadiga total do modo como as coisas tem sido conduzidas no estado.
A população já sente que é governada por déspotas que tratam o estado como se
fosse uma capitania hereditária. Contraditoriamente, o caos pode ser o
princípio do fim do domínio político do grupo encastelado no Palácio
dos Leões.
A necessidade de uma visão histórica e concreta para desatar as maranhas que envolvem o estado na realidade atual
Sem conhecer a formação social do
Maranhão e sua história econômica e política, não há como mudar o que está aí
aos olhos vistos. Não há perspectiva salvacionista como pensam ou querem alguns.
Não há espaço para messianismo nessa história, mas para questões concretas que
são fundamentais no debate político na sucessão do governo do estado.
Vários fatores levaram a
derrocada da economia maranhense, mas podemos expressar resumidamente que sua
crise econômica se deslinda de forma permanente por séculos no estado. A promessa
que Sarney proferiu ao povo no seu discurso de posse não foi cumprida. O alavancamento econômico não ocorreu. De lá
para cá, constitui-se uma elite dirigente que vive as expensas do estado e
acumulando riquezas em meio a gradativo aprofundamento do empobrecimento da
população.
No espectro econômico, o estado é
um exportador de commodities agrícolas e minerais devido sua posição geográfica
privilegiada que integra a ferrovia e porto, porém não há uma interface que permita
construir uma base industrial e de serviços que dinamize sua economia. É pura
falta de projeto.
O grupo Sarney não tem um projeto
de desenvolvimento e quando teve esta oportunidade, não seguiu nem as
orientações do economista Tribuzi. que apontava para a necessidade de constituição de um projeto de desenvolvimento para o estado. Este talvez foi o mais
lúcido analista ao pensar o Maranhão de seu tempo dessa forma, assim como o Rangel. digo sobre a perspectiva de um projeto de desenvolvimento. O “Dono do Mar” optou, como prioridade, por alicerçar sua
aliança com as pequenas oligarquias do interior do estado e se manter em
situação privilegiada no poder e construir sua carreira no cenário político
nacional.
Superar o caos e destravar os gargalos econômicos e sociais.
Há alguns meses temos visto o
problema grave de segurança pública que arrasta a população do Maranhão a uma
situação de pânico. Evidentemente que o problema do Maranhão não se resume
somente a questão do aumento alarmante da criminalidade, é de ordem política e
sua e natureza tem raízes de ordem econômica.


A população já está sob toque de
recolher. Os bandidos estão de posse de armamento pesado e se organizaram para
aterrorizar a população, intimidaram a polícia local com medidas de força ao metralhar
delegacias, postos policiais e assassinatos de agentes de segurança pública. Recentemente,
tocaram fogo em vários ônibus com pessoas dentro.
Uma escuta, veiculada na mídia nacional,
demonstrava no conteúdo do diálogo que um traficante orientava Fernandinho
Beira Mar buscar transferência para o Maranhão. Dizia ele, que lá se consegue
resolver as coisas no judiciário. Vale lembrar que as indicações dos altos
escalões judiciário maranhense são chanceladas pelo clã.
A situação da corrupção corrói a estrutura
de poder e dificulta ainda mais as coisas, uma vez que se incrustou nos últimos
quase 50 anos. Ela promoveu, inclusive, a aumento da concentração fundiária que
encheu a periferia dos já sofríveis centros urbanos maranhense. Invasões,
palafitas, moradias sem infraestrutura foram formando em paisagem da
desigualdade social. Trata-se da unidade da federação onde a pobreza é uma
mácula que assombra os olhos em contraste com a classe ultra rica que domina o
estado. Este possui uma elite cosmopolita que mantém mansões no exterior e ostentar os mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país.
Toda esta situação compõe o
ingrediente explosivo que o crime organizado precisava. Juventude sem
perspectiva e o mundo do crime oferece um caminho mais curto. Outro aspecto, é
um governo estadual sem projeto e envolto somente na necessidade política de
sobrevivência a qualquer custo, seja a sangue e do sofrimento do povo.
Algumas considerações
O Maranhão tem diversas
potencialidades e seu povo é guerreiro, pois na mais ferrenha adversidade
sobrevive. É necessário criar condições que possa viver e não sobreviver, pois
está desprovido dos instrumentos infraestruturais de resistência decorrente da
miséria material e política.
O PC do B não é um partido
eleitoral, mas de projeto de longo curso. A via eleitoral é um dos elementos do
processo. O cenário eleitoral é de grande luta contra o poder econômico e o
crime organizado encastelado na estrutura de poder que corroem aquela unidade da
federação.
Uma possível vitória do candidato
do PC do B naquele estado tem repercussão nacional, pois derrota a mais antiga
oligarquia em operação. Por outro lado, este governo de esquerda será vítima
dos mais diversos tipos de sabotagem perpetrados por aqueles que foram apeados
do governo, não do poder.
Penso que a circunstância da
eventualidade da eleição de Dino é só o começo, não um fim em si mesmo. É
necessário a construção de um projeto de desenvolvimento para o Maranhão. Deve-se
utilizar as potencialidades estratégicas do estado que sempre foram seu
diferencial desde quando foi fundado e atualizá-lo para sustentar seu progresso
econômico. Seu povo merece isso. As demandas são tantas e os problemas
imediatos são enormes, este é o perigo e os desafios a serem enfrentados.
Comentários