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Reflexão sobre atual situação social, política e econômica maranhense: do caos a esperança de dias melhores

A decadência da economia maranhense já se anunciava desde o início do século XIX. Já no século XX, Getúlio Vargas fez a primeira intervenção no Maranhão ao apear do poder os grupos políticos que ali se reversavam. Uma estrutura de poder formou-se ao longo o tempo e não dava mais conta dos anseios de setores da classe política e do expectativa popular por mudanças estruturais. Um novo Maranhão  foi o lema da esperança que Sarney captou para si e se eleger governador na última eleição direta naquele período, uma vez que todos os governos posteriores foram indiretos até a chegada da “redemocratização” do país.
A eleição em 1965 de José Sarney contou com o apoio do governo central. Foi a retribuição pelo seu voto no colégio eleitoral em favor de Castelo Branco e sua contribuição no desfecho do golpe de 64. Estes casos são exemplos de como a política estadual não pode ser vista isoladamente do cenário nacional, uma vez que o mentor do clã que mantém o controle político e econômico do estado e é, até o momento, um homem importante no tabuleiro da política nacional.
Os governos que se sucederam sempre tiveram a marca da influência política de Sarney. Já no aspecto social e econômico os avanços foram imensamente modestos, o que muito contribuiu na constituição de bolsões de pobreza, grande movimento migratório a centros urbanos mais desenvolvidos.
Os custos desta situação têm sido altíssimo para a população. Tudo leva a crer que se aproxima a fadiga total do modo como as coisas tem sido conduzidas no estado. A população já sente que é governada por déspotas que tratam o estado como se fosse uma capitania hereditária. Contraditoriamente, o caos pode ser o princípio do fim do domínio político do grupo encastelado no Palácio dos Leões.

A necessidade de uma visão histórica e concreta para desatar as maranhas que envolvem o estado na realidade atual

Sem conhecer a formação social do Maranhão e sua história econômica e política, não há como mudar o que está aí aos olhos vistos. Não há perspectiva salvacionista como pensam ou querem alguns. Não há espaço para messianismo nessa história, mas para questões concretas que são fundamentais no debate político na sucessão do governo do estado.
As promessas do grupo dominante sempre ficaram aquém das necessidades do povo. A falta de condições infraestruturais, tais como educação, saúde, modais de transporte, políticas de emprego e renda, indução de setores econômicos e tração de novas vocações ao estado, etc, mantêm a economia maranhense em baixo crescimento e não permite agregar a sua juventude ao mundo do trabalho de forma mais qualificada e evitar que o mundo do crime coopte as suas melhores potencialidades. A hecatombe econômica que se abateu sobre  sua economia até hoje não foi superada por aquela que outrora era uma das mais pujante  até o final do século XIX e chegou a ter um parque fabril relevante, o que levou em seus tempos áureos a ser também chamada de “Manchester do Norte”.
Vários fatores levaram a derrocada da economia maranhense, mas podemos expressar resumidamente que sua crise econômica se deslinda de forma permanente por séculos no estado. A promessa que Sarney proferiu ao povo no seu discurso de posse não foi cumprida. O alavancamento econômico não ocorreu. De lá para cá, constitui-se uma elite dirigente que vive as expensas do estado e acumulando riquezas em meio a gradativo aprofundamento do empobrecimento da população.
No espectro econômico, o estado é um exportador de commodities agrícolas e minerais devido sua posição geográfica privilegiada que integra a ferrovia e porto, porém não há uma interface que permita construir uma base industrial e de serviços que dinamize sua economia. É pura falta de projeto.
O grupo Sarney não tem um projeto de desenvolvimento e quando teve esta oportunidade, não seguiu nem as orientações do economista Tribuzi. que apontava para a necessidade de constituição de um projeto de desenvolvimento para o estado. Este talvez foi o mais lúcido analista ao pensar o Maranhão de seu tempo dessa forma, assim como o Rangel. digo sobre a perspectiva de um projeto de desenvolvimento. O “Dono do Mar” optou, como prioridade, por alicerçar sua aliança com as pequenas oligarquias do interior do estado e se manter em situação privilegiada no poder e construir sua carreira no cenário político nacional.

Superar o caos e destravar os gargalos econômicos e sociais.

Há alguns meses temos visto o problema grave de segurança pública que arrasta a população do Maranhão a uma situação de pânico. Evidentemente que o problema do Maranhão não se resume somente a questão do aumento alarmante da criminalidade, é de ordem política e sua e natureza tem raízes de ordem econômica.
O caos tomou conta do sistema prisional e das ruas do Maranhão é a mostra clara da falência da gestão do grupo dominante. Em recente artigo do Senador Sarney, o mesmo vaticina que os problemas de segurança estavam circunscritos aos presídios. Admitiu, indiretamente, que o controle do crime organizado nesses instituições como algo natural. Só que a coisa já transbordou a tempo para as ruas, e aí senador?
Todos sabem que já faz muito tempo que o senador pelo Amapá não anda entre o povo e não sente os seus problemas. Tentar ludibriar a mídia nacional e os incautos com o argumento que o crime organizado não está no comando. Isto é só mais uma maranha retórica do ex-presidente. O mesmo omite a ineficaz privatização dos serviços penitenciários e que tal medida só agravou os problemas de gestão do sistema prisional maranhense, cuja filha é a atual governadora pela quarta vez. Recursos preciosos oriundos do governo federal para investimento no sistema prisional retornam aos cofres da união por pura falta de projeto do executivo estadual, algo em torno de R$ 22.000.000. É a velha lógica que presídio não dá voto.
A população já está sob toque de recolher. Os bandidos estão de posse de armamento pesado e se organizaram para aterrorizar a população, intimidaram a polícia local com medidas de força ao metralhar delegacias, postos policiais e assassinatos de agentes de segurança pública. Recentemente, tocaram fogo em vários ônibus com pessoas dentro.
Uma escuta, veiculada na mídia nacional, demonstrava no conteúdo do diálogo que um traficante orientava Fernandinho Beira Mar buscar transferência para o Maranhão. Dizia ele, que lá se consegue resolver as coisas no judiciário. Vale lembrar que as indicações dos altos escalões judiciário maranhense são chanceladas pelo clã.
A situação da corrupção corrói a estrutura de poder e dificulta ainda mais as coisas, uma vez que se incrustou nos últimos quase 50 anos. Ela promoveu, inclusive, a aumento da concentração fundiária que encheu a periferia dos já sofríveis centros urbanos maranhense. Invasões, palafitas, moradias sem infraestrutura foram formando em paisagem da desigualdade social. Trata-se da unidade da federação onde a pobreza é uma mácula que assombra os olhos em contraste com a classe ultra rica que domina o estado. Este possui uma elite cosmopolita que mantém mansões no exterior e ostentar os mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país.
Toda esta situação compõe o ingrediente explosivo que o crime organizado precisava. Juventude sem perspectiva e o mundo do crime oferece um caminho mais curto. Outro aspecto, é um governo estadual sem projeto e envolto somente na necessidade política de sobrevivência a qualquer custo, seja a sangue e do sofrimento do povo.

Algumas considerações


O Maranhão tem diversas potencialidades e seu povo é guerreiro, pois na mais ferrenha adversidade sobrevive. É necessário criar condições que possa viver e não sobreviver, pois está desprovido dos instrumentos infraestruturais de resistência decorrente da miséria material e política.
O PC do B não é um partido eleitoral, mas de projeto de longo curso. A via eleitoral é um dos elementos do processo. O cenário eleitoral é de grande luta contra o poder econômico e o crime organizado encastelado na estrutura de poder que corroem aquela unidade da federação.
Uma possível vitória do candidato do PC do B naquele estado tem repercussão nacional, pois derrota a mais antiga oligarquia em operação. Por outro lado, este governo de esquerda será vítima dos mais diversos tipos de sabotagem perpetrados por aqueles que foram apeados do governo, não do poder.

Penso que a circunstância da eventualidade da eleição de Dino é só o começo, não um fim em si mesmo. É necessário a construção de um projeto de desenvolvimento para o Maranhão. Deve-se utilizar as potencialidades estratégicas do estado que sempre foram seu diferencial desde quando foi fundado e atualizá-lo para sustentar seu progresso econômico. Seu povo merece isso. As demandas são tantas e os problemas imediatos são enormes, este é o perigo e os desafios a serem enfrentados.

Por Robson Camara- Doutor em Sociologia

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